Em todas as hierarquias políticas cresce o número de especialistas que culpam, mas não agem
Em todas as esferas do poder, o Brasil tem assistido a um fenômeno que se repete há décadas: o de pessoas públicas que se especializaram em apontar erros, culpar gestões anteriores e atuais para discursar sobre o caos, mas nada fazem para mudar o cenário.
Nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e até no Congresso Nacional, multiplicam-se vozes que falam muito, mas realizam pouco, não apresentam possíveis caminhos ou soluções. A crítica, quando não acompanhada de ação, torna-se apenas ruído político, que, por mais alto que soe, não traz frutos. Prova disso se vê com clareza nas sessões da Câmara de Vereadores de Itu. Onde ataques e críticas são constantes.
No âmbito municipal, o comportamento se repete com frequência quase didática. Vereadores que prometem fiscalizar e propor melhorias se transformam em comentaristas das falhas da cidade. Prefeitos que herdaram administrações problemáticas passam anos culpando o passado em vez de apresentar soluções novas. Enquanto isso, buracos nas ruas, falhas no transporte e deficiências nos serviços básicos seguem sem resposta.
A política local, que deveria ser o primeiro degrau da transformação concreta, acaba reduzida a discursos de indignação.
No campo estadual, o enredo não é diferente. Muitos governadores e deputados preferem o palanque da retórica ao trabalho silencioso da gestão. Transformam a tribuna em ringue ideológico, gastam energia com disputas partidárias e esquecem que sua função é promover políticas públicas que atinjam milhões de pessoas.
É mais fácil criticar o governo federal ou culpar a União pela falta de recursos do que explicar por que projetos estruturantes não saem do papel. A política estadual, que deveria servir de ponte entre o município e a federação, tem se tornado um eco das queixas nacionais.
Já no nível federal, a situação se torna uma novela, mas sem capítulo final. Brasília vive entre discursos inflamados, narrativas polarizadas e uma rotina de acusações mútuas. Parlamentares, ministros e até lideranças partidárias gastam mais tempo em debates calorosos do que em soluções. A população, por sua vez, assiste aflita ao jogo de empurra que atravessa gestões e ideologias, sem que o país avance em áreas essenciais como, por exemplo, educação, saúde e segurança. Criticar o adversário se tornou mais rentável politicamente do que apresentar um plano de governo viável.
É claro que a crítica tem o seu papel, um papel essencial na democracia. Ela denuncia abusos, cobra transparência e estimula o debate público. O problema surge quando ela substitui a responsabilidade pela paralisia. Criticar é fácil, mas construir exige coragem, técnica e compromisso. O país precisa de representantes que saibam apontar falhas, mas que também se disponham a enfrentá-las com propostas, diálogo e trabalho real. É a partir dessa atitude que nasce o verdadeiro espírito público.
O Brasil não carece de pessoas que reclamem, carece de líderes que façam. E, enquanto a política continuar refém do discurso vazio, o cidadão seguirá sendo o maior prejudicado. Chegou o momento de cobrar menos indignação e mais entrega, menos falas inflamadas e mais resultados concretos. Afinal, governar não é apenas dizer o que está errado, é ter a coragem de mostrar como fazer certo.



