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Doutor Vlademir Cantarelli fala sobre mutação dos vírus

Mesmo diante tantos casos suspeitos e confirmados, de tantas informações e tamanha repercussão mundial, existe ainda muita desinformação e ignorância quanto aos cuidados e prevenções para conter ou minimizar os efeitos do ‘novo’ coronavírus.

De fato, a proporção do contágio desse vírus – COVID-19 – é imensa. Desde dezembro de 2019 já são 110 países com casos, 5.793 mortes (até às 19h16 de 14/03) e 153.957 infectados, a maioria na China, onde surgiram os primeiros casos, depois Itália e Irã.

Mas qual o porquê dessa ignorância? Justamente pela quantidade excessiva de informações e que, em alguns momentos, se desencontram, às vezes intencionalmente (fake news), ou por diferentes teorias de especialistas da área da saúde. Pesquisadores de todos os países, afetados ou não, estão tentando descobrir a raiz dessa doença, que é uma ‘simples’ mutação do vírus da gripe, mas que não conhecíamos e que nosso organismo ainda não criou anticorpos para combatê-lo.

Outro fator que contribui para o crescimento dos números acima é a falta de cuidados, higiene, educação e prevenção. Nenhum extremo é benéfico, nem a falta de higiene, por motivos óbvios, nem a higiene excessiva, pois causará o pânico e desabastecimento para aqueles que realmente necessitam.

Este veículo entrevistou o Dr. Vlademir V. Cantarelli, Biomédico e PhD em microbiologia, que trouxe dados relevantes sobre os vírus. Confira as pontuações dele:

– O COVID-19 é uma evolução/variação do vírus do MERS e SARS? Existe algum ‘padrão’ para sua variação?

Sim, o coronavírus é um velho conhecido, segunda maior causa dos resfriados comuns todos os anos, mas que resolveu vir de roupagem nova este início de ano, sendo assim mais difícil de ser reconhecido por nosso sistema imune. Pode-se dizer que evolui de um ancestral comum, assim como os “primos” causadores da SARS e MERS, mas causam doenças respiratórias de maior ou menor gravidade.

– Como é o processo de variação dos vírus?

As variações dos vírus em geral, é particularmente dos que causam infecções respiratórias, é algo natural e faz parte da evolução própria destes vírus. Se não mudarem de tempos em tempos, ficam conhecidos do nosso sistema imune e a tendência seria termos imunidade duradoura, que impediria a reinfecção por estes agentes! Ora, o vírus não quer desaparecer, portanto é forçado a mudar para continuar existindo. Não há padrão específico para estas mudanças. Elas ocorrem aleatoriamente a cada infecção humana ou animal, já que estes vírus também podem causar infecções em animais. O simples fato de se multiplicarem gera mutantes.

Geralmente não há grandes mudanças, por isso conseguimos combater o vírus no ano seguinte, tendo sintomas leves. Eventualmente surge um vírus mais mutado, mais distinto, que nos é total ou parcialmente novo, e aí temos casos mais graves, até “acostumarmos” novamente com este novo vírus….É o caso do H1N1, que causou tantos problemas em 10/2009, mas que já não é mais tão problemático hoje, pois a maioria de nós já desenvolveu imunidade a este vírus.

– O Coronavírus se desenvolve em algum ambiente ou clima específico?

Todos os vírus precisam infectar um organismo vivo para se reproduzir. Não há multiplicação do vírus fora das células de seu hospedeiro. O que pode é a partícula viral se manter viável por algum tempo no ambiente, mas geralmente por no máximo algumas horas.

– Sabe dizer porque esse vírus é tão letal, porque toma conta do nosso organismo tão rápido?

Trata-se de uma variante viral que nosso corpo (sistema imune) ainda não conhece e tem que aprender a combater. Esse processo é mais fácil em jovens e adultos saudáveis, mas em crianças muito pequenas e idosos o sistema imune ainda não está bem desenvolvido ou já tem mais dificuldades de reagir, as vezes reagindo de forma exagerada, causando mais estragos ao organismo, como se fosse utilizada uma arma muito poderosa para aniquilar o inimigo, porém há muito mais estragos nos arredores.

Ter outras doenças como asma, diabete, doenças cardíacas, etc. Também vai diminuir a capacidade de reagir contra o vírus e as consequências tendem a serem mais graves

– Faz sentido dizer que os remédios, no caso da gripe (qualquer gripe), não curam, o que cura é o próprio organismo?

Não há remédios específicos. Embora tenha na internet várias indicações de possíveis antivirais, ainda é muito cedo para uso real em pacientes. Nenhum dos medicamentos livremente vendidos em farmácia como antigripais, realmente, combatem os vírus, eles apenas atuam nos sintomas, diminuindo a febre, dor no corpo, e aumentam a disposição. Mas, a arma verdadeira é nosso corpo, nosso sistema imune.

Ao final da entrevista, o Dr. Vlademir ainda dá algumas dicas: “Portanto, vamos seguir com boas práticas, atividade física, alimentação adequada, nada de remédios, principalmente receitas de redes sociais. Lavar as mãos frequentemente é o melhor!

Acho que devemos ter calma. Principalmente não ir a hospitais e serviços de saúde sem ter sintomas mais claros. Lembrar que lá haverá mais concentração e doentes e podemos nos infectar ao aguardar junto à estas pessoas! E máscara só protege os outros, não quem usa. Pelo menos as máscaras comuns. Elas devem ser usadas por quem está com gripe ou resfriado para proteger os outros!”.

Outras pandemias pelo mundo

Se buscarmos na história os registros das grandes doenças (pandemias) que o mundo já enfrentou, exemplos não vão faltar. A primeira delas foi a hanseníase, também conhecida como lepra, no século 6 a.C.. Em seguida veio o registro da peste bubônica ou peste negra, que surgiu no século 14.

Por mais que o homem evolua e as tecnologias avancem, ainda não é possível conter a mutação dos vírus e bactérias e proteger o homem das contaminações. Além dois exemplos dados acima, segue mais dezesseis outros: Gripe Espanhola, Tifo Endêmico, Ebola, Varíola, Malária, Febre Amarela, Cólera, Tuberculose, Sarampo, Febre de Lassa, Dengue, Zika, AIDS, SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) e H1N1.

A pandemia mais recente pela qual o mundo passou foi a gripe A, conhecida como gripe suína e também como H1N1, em 2009. Essa teve início no México e acredita-se que o vírus veio do porco e das aves. Em junho daquele ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) elevou o status da doença para pandemia após contabilizar 36 mil casos em 187 países e quase 300 mil mortes. O fim da pandemia se deu em agosto de 2010.

Até a data da publicação deste material, o número de mortes pelo coronavírus é bem menor se comparado ao H1N1, não é por isso que a atenção possa diminuir. Todas as formas de prevenção devem continuar em ação: alimentação saudável, atividades físicas frequentes (em locais abertos), evitar locais com aglomeração, higiene constante das mãos, limpeza de objetos e superfícies que são tocados por muitas pessoas, etc.

Novo vírus da gripe

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