“Não entre em pânico, entre na solução”

Neurocientista fala da importância da formação socioemocional e empatia para recuperar prejuízos educacionais impostos pela pandemia

Mais de 1,5 bilhão de estudantes em todo o mundo já foram afetados ou estão sofrendo com os impactos provocados pela pandemia da Covid-19, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A educação enfrenta um dos maiores desafios da história e nesse novo cenário, que exigiu a adaptação de todos os envolvidos, os professores também passaram a enfrentar inúmeras adversidades para recuperar os prejuízos educacionais.

“Não entre em pânico, entre na solução”, esse foi um dos conselhos deixados pela dra. Ângela Mathylde em sua participação na edição on-line do 24º Congresso Internacional de Educação da Legião da Boa Vontade (LBV), evento anual que contribui para a formação continuada de profissionais de áreas ligadas à Educação. O tema da palestra abordado pela cientista da educação foi “Os impactos da emoção na cognição, nas aprendizagens e nas relações sociais e afetivas”.

Entre tantos conteúdos, Ângela apresentou um assunto de imensa relevância: a criação de valor entre professor e aluno. “Não precisa ser perfeito, só precisa ser amor e ter respeito […], a metodologia é que leva a esse ‘salvamento’, se tenho uma metodologia que respeita e dá valor à emoção haverá aprendizagem.”

Formação socioemocional

Um ponto significativo tratado foi a questão socioemocional dos alunos. A doutora destacou que é necessário ensinar o estudante a viver, a pensar, reconhecer suas habilidades e competências, além de vivenciar emoções para que ele consiga sair da posição de vítima do processo educacional. Aliás, ela enfatizou que educadores devem evitar estímulos negativos com a aprendizagem: “se o aluno está com baixa autoestima e você está confirmando, tem que parar e incentivar ele a aprender, por isso que muitos alunos vão na escola só para comer”.

É preciso estudar o processo de aprendizagem por três perspectivas: comportamento, emocional e suas dificuldades. Ângela reforça que professores sejam a solução de seus alunos, englobando e integrando vários campos do conhecimento, pois “só quem já passou [por problemas] sabe como dói, se você não passou, não queira passar, porque dói muito e leva a condutas ruins, uma delas é não querer aprender, então, cuidado com isso!”.

A importância da empatia

Conhecer a família, sua história bem como o contexto social do aluno e não subjugar é imprescindível. Além do mais, identificar suas emoções também são pontos fundamentais: “se seu aluno está triste, agitado ou não está rendendo na medida necessária, você tem que ir perguntar a ele, tem que buscar a família. Ciência não se faz com achismo, se faz com evidência e, para isso, preciso ter conhecimento”.

De acordo com a neurocientista, a identificação precoce é necessária para evitar mais prejuízos: “antes que ele seja um péssimo marido, que esteja preso ou alcoolizado. […] a escola é o segundo espaço que a criança e o adolescente ficam mais do que dentro de casa e não podemos negligenciar a questão precoce”.

Metodologia inovadora

Por acreditar no poder transformador da Educação, a LBV possui um conceito educacional inovador na Entidade, que traz um olhar individualizado para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos estudantes. A escuta qualificada que acolhe, valoriza sentimentos e identifica dificuldades, potencializa as habilidades do aprendiz que se encontra em situação de vulnerabilidade e/ou risco social. A qualidade pedagógica aliada à Espiritualidade Ecumênica é a bandeira de vanguarda da Instituição, proposta pelo educador Paiva Netto.

A Legião da Boa Vontade acredita que a educação constrói oportunidades, as quais transformam vidas. No Brasil, a Entidade possui 82 unidades socioeducacionais entre escolas de educação básica e de capacitação profissional, Centros Comunitários de Assistência Social e abrigos para idosos, que resgatam em cada atendido a sua autoestima e transformam para melhor a sua realidade. Aliás, com a atuação de profissionais e voluntários capacitados, a LBV garante que o local seja seguro e o trabalho de qualidade.

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* Ângela Mathylde Soares, professora; pedagoga; psicopedagoga; psicanalista; neurocientista; mestre e doutora em Estudos Psicanalíticos pela Escola de Psicanálise Clínica do Rio de Janeiro, filiada à UK Psychoanalytical Society de Londres; doutora em Teoria e Prática Clínica Psicanalítica e Psicopatologia pela Erich Fromm World University de Miami, Flórida, Estados Unidos; presidente do Congresso Internacional Brain Connection Brasil.

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