Em artigo redigido pelo presidente da AnaMid, Rodrigo Neves, o futuro do trabalho diante as diversas plataformas tecnológicas é colocado em pauta. Afinal as IAs (Inteligências Artificiais) estão afetando todas as áreas profissionais, seja de forma positiva ou não.
Em estudo do Fórum Econômico Mundial nomeado “Futuro do Trabalho 2025–2030”, em colaboração com a Fundação Dom Cabral (FDC), apresenta um panorama inquietante e necessário sobre as transformações que vão impactar o mercado de trabalho global, em especial, o digital. Para quem vive o dia a dia da transformação digital brasileira, esse estudo não é apenas um retrato de tendências — é um chamado à ação.
Rodrigo faz uma análise do estudo, segmentando entre o mundo do trabalho ‘tradicional’ e o digital, mostrando como um afeta o outro e o que deve ser mudado para se adaptar ao último.
Leia o artigo completo aqui.
O Imprensa Aberta conversou com o presidente da Associação para detalhar o que deve ser feito. Leia abaixo.
1. No Brasil ainda há deficiência nas empresas quanto à cultura de qualificação interna? Ainda buscam contratar profissionais “prontos”?
“Sim, e essa é uma das grandes distorções que precisamos enfrentar com urgência. Ainda há, infelizmente, uma cultura muito forte em buscar o profissional “pronto” no mercado, como se a empresa pudesse terceirizar a responsabilidade pelo desenvolvimento das competências digitais que ela mesma demanda. O problema é que, ao fazer isso, muitas organizações perdem a oportunidade de construir uma cultura de aprendizado contínuo e se tornam reféns de um mercado cada vez mais escasso de talentos. Na prática, vemos um descompasso entre discurso e ação: muitas empresas dizem valorizar o desenvolvimento interno, mas não estruturam trilhas de capacitação, nem alinham suas lideranças para fomentar essa cultura. No contexto da maturidade digital, isso é um entrave significativo.”
2. Você vê interesse dos governos — em qualquer esfera — e do setor privado em se abrirem mais para esse mercado digital? Com investimento, renovação, capacitação, etc?
“Vejo sinais, mas ainda aquém do que o Brasil precisa. Temos movimentos pontuais e programas bem-intencionados, mas falta escala, continuidade e integração entre as iniciativas. No setor público, há boas práticas surgindo em algumas esferas, principalmente em municípios e estados que entenderam que transformação digital é sinônimo de eficiência, transparência e impacto social. No entanto, isso ainda não é uma prioridade nacional. Já no setor privado, as grandes empresas vêm investindo mais fortemente em inovação e capacitação. O problema é que as médias e pequenas, que são a maioria no Brasil, ainda enfrentam muitos desafios — falta incentivo, apoio técnico e, principalmente, entendimento do valor estratégico da digitalização. O que falta é um pacto mais claro entre governos, setor produtivo e entidades do ecossistema digital, como a AnaMid, para destravar esse potencial.”
3. A comunicação dentro das empresas ainda é um bloqueio para o crescimento delas? Ela continua funcionando de forma horizontal?
“Sem dúvida. A comunicação interna ainda é um dos grandes gargalos da transformação digital nas empresas brasileiras. E não estou falando apenas da ausência de ferramentas — mas sim da falta de cultura de escuta, de alinhamento estratégico e de integração real entre áreas. Muitas lideranças ainda operam em silos, onde as decisões são top-down e as informações não fluem. Outras apostam em modelos excessivamente horizontais, sem clareza de papéis e sem mecanismos de responsabilização. Nenhum desses extremos é saudável. A maturidade digital exige uma comunicação transparente, constante e orientada a objetivos. E isso precisa ser construído com método, governança e tecnologia a serviço da cultura.”
4. Com as experiências que vocês já tiveram, os colaboradores sentem um certo receio ou medo de perderem seus trabalhos para as IAs?
“Sim, esse receio existe, e ele é legítimo. A inteligência artificial está avançando com velocidade e, em muitos casos, sem a devida explicação de como será utilizada no ambiente corporativo. Isso naturalmente gera insegurança. Mas eu costumo dizer que o risco não é a IA em si — o risco é continuar operando com as mesmas competências de sempre. Quando as empresas incluem seus colaboradores na jornada, explicam os impactos da IA, oferecem requalificação e mostram como ela pode ser uma aliada, o medo dá lugar à curiosidade e ao protagonismo. O papel das lideranças, nesse momento, é acolher esse medo, mas também agir: criar trilhas de capacitação, abrir espaços de diálogo e posicionar a IA como um instrumento de ampliação de capacidades humanas, e não de substituição pura e simples.”



