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Segue em exposição no Museu FAMA a mostra ‘Lições da Pedra’, de Naira Pennacchi

A mostra reúne obras que investigam os saberes ancestrais dos interiores brasileiros

A mostra ‘Lições da Pedra’, lançada no último mês, segue em exposição no Museu FAMA. De autoria da mineira Naira Pennacchi, a apresentação reúne mais de 30 obras entre pinturas, vídeos, objetos e instalações. Todas produzidas a partir de pesquisas sobre os saberes e práticas ancestrais do interior do nosso país.

A curadoria é de Mario Gioia e marca a primeira itinerância da artista em Itu. A ‘Lições da Pedra’ segue em cartaz até 12 de outubro. Lançada no dia 11 de julho, o público pôde participar de um encontro com direito a uma palestra, visita guiada, além da estreia do livro, de mesmo nome da exposição, com a presença da artista e do curador.

A atividade do dia da inauguração contou com a mediação do museólogo Emerson Ribeiro Castilho e da Doutora em Artes Visuais Sônia Leni Chamon, ambos do Programa Educativo do Museu FAMA.

Minha pesquisa é um mergulho nesse interior simbólico e geográfico que resiste às práticas e rituais das mulheres que preservam saberes ancestrais. O Sertão, seja em Minas, no Piauí ou em Portugal, é um só”, afirma a artista.

O Imprensa Aberta conversou com a artista após o evento e ela nos confessou suas sensações e inspirações

Aprecie abaixo!

Naira, quais foram suas inspirações para criar materiais em pedras e tecidos?

“A inspiração para a instalação Pedra Flor, que é feita de rochões de basalto e um antúrio Made in China vem da materialidade. É isso que me atrai: a dureza, a resistência, como ela se comporta no ambiente natural e de várias formas ela vai suportando, abrigando, protegendo a natureza, enfim. E esse material doméstico da flor de plástico Made in China também me interessa muito. Trabalhar esses materiais que são de uso comum, do universo doméstico e que podem ser encontrados em lojas de periferia, de produtos importados acessíveis a uma grande maioria. Acredito que essa rigidez da pedra e essa resistência que brota são as inspirações. E tem muito a ver com o nome da exposição. A educação é algo difícil de se manter mas que continua firme e resistente. E, ao mesmo tempo, como eu, como feminino, como natureza, ser capaz de gestar, encontro muita ressonância nessa resistência, uma resistência que é também do feminino.

A arte, cultura, o interesse por esse imenso mundo vem de família ou você se emaranhou sozinha?

“Eu cresço num ambiente rodeada de obras do Fulvio, mas não só com relação à arte em si, que claro, eu fui motivada, mas acredito que as atividades manuais que minha mãe (dona de malharia na cidade de Jacutinga) me incentivava a fazer me marcaram muito. Ela sempre me sugeria que eu pintasse panos de prato, que eu gostava muito.

Na malharia dela, ela me dava os retalhos das blusas que cortava para fazer encaixes, casacos de patchwork de restos de tecido. Quando o tecelão errava no tecido de confecção das blusas, eu usava uma máquina para desfazer o pano e enrolar os fios no cone novamente para voltarem a serem usados. Esse processo manual de confecção de tecidos e bordado também muito me interessava. É dali por exemplo que vêm obras como ‘Treliça’, que está na exposição do museu Fama, com um bordado sobre esse teleiro.

São atividades que iniciei na infância, das quais trago essa memória e até hoje pratico, de ressignificar as coisas, de reorganizar os materiais. Eu lembro que me satisfazia demais levar esses produtos da malharia para a loja dela, vender esses objetos dos quais eu fazia parte da produção.”

Como sua exposição chegou em Itu? Foi por indicação, convite, iniciativa sua?

“Eu sou uma artista que trabalha essas questões do interior. Eu sou do interior, do sul de Minas, e trabalho no sentido do vernacular, do que é entendido como originário, através dos saberes populares e do resgate dessa cultura imaterial.

Para essa itinerância eu queria que fosse muito especial, então eu escolhi o interior, as cidades de Botucatu, Itu e Ribeirão Preto. Para que a cultura se torne acessível para as cidades como um todo, para que a cultura do próprio interior seja vista pelo povo interiorano, se locomovendo pelas regiões mais próximas. Em Botucatu fizemos na Pinacoteca da Cidade e em Itu, no Museu Fama, um espaço muito desejado também, por mim e pelo curador, já que é um museu significativo para todo o território brasileiro.

Ali, a localização geográfica, as histórias que ali acontecem são muito marcantes. Inclusive a instalação de pedra foi profundamente ativada ali, pois tem muito a ver com as histórias rochosas da região. Então foi um prazer expor ali e ver como a exposição se comporta diferente nos diversos lugares em que passa.

Pode nos dizer como Fulvio Pennacchi, Alfredo Volpi, Francisco Rebolo e Aldo Bonadei influenciaram na sua vida pessoal e profissional?

Crescer olhando esses artistas, principalmente com uma intimidade maior com o Fulvio Pennacchi, influenciou muito. Principalmente o Fulvio, porque quando eu ia fazer as visitas aos meus avós, na cidade de Monte Sião, muito próxima a Jacutinga, a gente sempre encontrava desde afrescos e pinturas em grandes telas a óleo, desenhos sacros.

Certa vez estava mexendo na gaveta dos meus avós e encontro uma obra de arte dedicada ao casamento da minha mãe e do meu pai – na verdade, minha mãe manda o convite do casamento deles para o Fulvio e ele manda uma obra com dedicatória atrás. A minha tia também mandou o convite de casamento para ele e ele manda atrás do convite desenhado cenas da Toscana e devolve com desenhos e uma dedicatória bem especial.

O que era muito rico para mim é que na cidade de Monte Sião o que eu via nas pinturas do Fulvio é o que acontecia ali ao meu redor: as festas religiosas, o interior da Toscana, que é uma região muito parecida à que eu vivia na infância, as quermesses, as festas juninas, os galos. Acho que viver ali e essa relação próxima que temos de pintar o interior e ressignificar os materiais que me interessam, de uso doméstico, rural, que pertencem ao nosso dia-a-dia nos une e diz muito sobre a minha arte.”

Confira a matéria produzida pré-lançamento da exposição!

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